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Perfil, remuneração e desafios dos conselheiros corporativos no Brasil

O papel de um conselheiro — seja em conselhos fiscais, consultivos ou de administração — exige uma combinação única de experiência, reputação e visão estratégica para guiar as empresas diante de riscos e oportunidades.

A pesquisa Board Trends Brazil, conduzida pelo Evermonte Institute — especialista em recrutamento para alta liderança — traz um panorama detalhado sobre quem são esses executivos, quanto recebem e quais são os principais desafios enfrentados nos conselhos brasileiros. Além disso, destaca a persistente falta de diversidade nas composições desses boards.

Felipe Ribeiro, sócio-fundador da Evermonte Executive Search, comenta:
“Um dos maiores obstáculos para a diversificação dos conselhos está na desconexão entre a estratégia de negócio e a composição do board.”


O perfil predominante dos conselheiros brasileiros

Segundo o estudo, com base em entrevistas com 133 conselheiros segmentados por faturamento das empresas, o cenário é o seguinte:

Historicamente, muitos conselhos eram estruturados para garantir sustentabilidade econômica e controle de riscos, especialmente em empresas familiares, onde conselheiros com perfil financeiro complementavam os fundadores e acionistas.

O estudo identifica uma tendência de renovação, com maior presença de executivos ligados a tecnologia, transformação digital e sustentabilidade, alinhada às demandas do mercado moderno. Ribeiro reforça a expectativa de que áreas como cultura organizacional, pessoas e inteligência artificial ganhem mais espaço e influência nas agendas dos conselhos.


Concentração geográfica dos conselhos

A pesquisa, realizada entre março e abril de 2025, mostra uma forte concentração de atuação nas regiões Sudeste (65,4%) e Sul (53,4%). Nordeste (13,5%) e Centro-Oeste (10,5%) aparecem em seguida, considerando que conselheiros podem atuar em múltiplas regiões.


Remuneração dos conselheiros no Brasil

Os honorários variam segundo porte, setor e localização da empresa, sendo comum no mundo um modelo fixo anual, às vezes com variáveis.

No Brasil, prevalecem modelos conservadores:

Faixas salariais mais frequentes:

Quanto maior o faturamento da empresa, maior a variação salarial, especialmente em companhias listadas na bolsa, onde as remunerações são mais expressivas.


Avaliação e renovação dos conselhos

Apesar da importância da governança, 40% dos conselhos não possuem avaliação formal de desempenho, ao passo que 98% dos boards das empresas do S&P500 realizam avaliações anuais.

Em relação à renovação:

Mesmo com avanços, a governança brasileira ainda é marcada por baixa diversidade de gênero, concentração geográfica e forte perfil financeiro.


A presença das mulheres nos conselhos

Mesmo com altos níveis de escolaridade e trajetórias sólidas, as mulheres ocupam apenas:

Além disso:

Desde 2020, o ingresso feminino vem crescendo (9,85% contra 6,82% entre 2011 e 2020), mas o ritmo ainda é lento. Projeções indicam que a equidade de gênero nos boards só será alcançada por volta de 2038, conforme estudo da Deloitte.

Leis de cotas de gênero para conselhos já existem em mais de 10 países europeus. No Brasil, um projeto aprovado prevê 30% de mulheres em conselhos de estatais, mas Ribeiro ressalta que avanços estruturais são mais que simples cumprimento legal.


Diversidade e inclusão nos boards

O crescimento da presença de grupos minorizados também é tendência, especialmente nos EUA, onde em 2024 cerca de 24% dos conselhos da Fortune 500 eram ocupados por pessoas negras, latinas, asiáticas ou outras etnias sub-representadas, contra menos de 15% há uma década.

Felipe Ribeiro destaca:
“A composição do board não deve ser estática. Boas decisões surgem do diálogo contínuo. Sem reinvenção, a diversidade de pensamento fica comprometida.”


Principais desafios dos conselhos brasileiros

Entre os temas estratégicos mais apontados estão:

Barreiras internas também impactam:

As prioridades estratégicas atuais focam em:

Apesar disso, a diversidade aparece em último lugar entre as tendências para 2025, sinalizando perda de espaço no discurso corporativo, embora continue essencial para o futuro dos boards.